Retalhos de memórias alinhavados entre lãs, linhas, notas, telas e lembranças.

Inajá Martins de Almeida

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"Manter um diário ou escrever, as próprias memórias deveria ser obrigação “imposta pelo estado”: o material acumulado após três ou quatro gerações teria valor inestimável. Resolveria muitos problemas psicológicos e históricos que afligem a humanidade. Não existe memória, embora escritas por personagens insignificantes, que não apresentem valores sociais e pitorescos de primeira ordem”.

(Tomasi di Lampedusa - Os Contos)

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sábado, 27 de julho de 2013

SUPERAÇÃO ATRAVÉS DAS LINHAS

De Foz do Iguaçu uma história comovente que mexeu com esta que reconta...


Um homem como Marcos desperta curiosidade, não?

Sim! Como desperta curiosidade. Sempre me pergunto o que leva um homem se dedicar ao crochê. A matéria que passei a ler intrigou-me sobremaneira. Homem sofrido... As drogas o torna cativo... Vergonha... Prisões... Privações e toda sorte de desencontro. 

Entretanto! Uma esperança. Uma luz... O pensar em Deus chama atenção. Ao clamor uma porta se abre dentro do cativeiro... Outro homem se dedica ao trabalho manual. São mãos que tecem. Mente que passa a tecer linhas a se interligarem ao Altíssimo.

E faz o homem pensar e confessar:

"Eu fazia muita coisa errada, bebia, dava vexame, humilhava a mim e as pessoas, e no outro dia eu acordava arrependido. Sempre pedia a Deus para que me ajudasse, até que fui preso. Ali, onde não existia drogas, álcool e prostituição, tudo começou a mudar. Mesmo tendo alguns anos para cumprir, eu só agradecia a Deus”.

Nós artesãs bem o sabemos o quanto nos envolvemos com as linhas. O tecer. O criar. O nos irmanar a outras tantas artesãs em ideias, em sonhos, em criatividade. É a criação que nos transporta mais perto do Criador. E a tudo que criamos "achamos bom".

Marcos percebe seu interior se agigantar. O trabalho o envolve. Percebe o mover das pessoas para sua pessoa. Vê a oportunidade onde muitos a rejeitam. Começa a árdua jornada entre linhas. Linhas nas mãos. Linhas na mente. A leitura o leva a filosofar. Agora sua vida passa a ter filosofia. Sabe porque tece cada ponto. Sabe porque cada ponto busca outros pontos. Sabe porque quer encontrar novos pontos...  

“É um trabalho que mexe com o ego. Ao terminar uma peça, as pessoas começam a elogiar e isso fica na minha mente como algo bom, criado por mim. Porque no mundo do crime, você faz coisas ruins e feias. Em contrapartida, comecei a aprender algo que resultou em elogios. O processo é lento e difícil. Ainda estou evoluindo, é uma luta diária, espero ser bem melhor do que sou. Acredito que estou no caminho”.

Nas linhas Marcos, antes perdido nas linhas do caminho, agora quer amar, quer ser amado no caminho. Pelo Caminho.  


Encontros possíveis. Notáveis. Personagens que se enredam nas tramas da vida. Nas tramas dos pontos. Ponto a ponto tecem histórias fantásticas. Histórias de superação. 

A leitura da vida. Em cada linha a leitura que se clama outras tantas linhas. 

Marcos que buscam caminhos. Caminhos que procuram por outros Marcos.

E estas linhas que se envolvem com as linhas tecidas. E recriam as linhas tecidas do texto. E compartilham novas linhas.

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Postagem e recontagem por Inajá Martins de Almeida 

   

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