Retalhos de memórias alinhavados entre lãs, linhas, notas, telas e lembranças.

Inajá Martins de Almeida

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"Manter um diário ou escrever, as próprias memórias deveria ser obrigação “imposta pelo estado”: o material acumulado após três ou quatro gerações teria valor inestimável. Resolveria muitos problemas psicológicos e históricos que afligem a humanidade. Não existe memória, embora escritas por personagens insignificantes, que não apresentem valores sociais e pitorescos de primeira ordem”.

(Tomasi di Lampedusa - Os Contos)

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quinta-feira, 24 de julho de 2008

TECENDO SONHOS

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Claude Monet - pintor francês (1840-1926)
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Camille Monet and child in the garden
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quarta-feira, 18 de junho de 2008

TECENDO LINHAS - 8ª Feira do Livro de Ribeirão Preto 2008

Entre um texto e outro, há muitas razões para se tecer a linha. Agora a linha na mão da bibliotecária e artesã Inajá, ao lado da escritora e também artesã Elza, exploram o encanto das palavras nas linhas. Momento de pura magia em que o fotógrafo pode registrar a cena.

(Foto by Elvio A.Antunes)
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sábado, 14 de junho de 2008

8ª FEIRA DO LIVRO DE RIBEIRÃO PRETO - momento de poesia

A mesma mão que tece a lã
encontra nas linhas do texto
motivo maior
para versejar
para declamar
para contar
para cantar
para encantar
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Durante a 8ª Feira do Livro de Ribeirão Preto (14 de junho 2008),
a bibliotecária Inajá Martins de Almeida
marcou sua presença ao homenagear, ao microfone, alguns autores que lá se apresentaram.
Momento ímpar registrado pelo olhar atento do fotógrafo Elvio Antunes de Arruda.
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Reparem na túnica de croche, confeccionada por Inajá!

8ª FEIRA DO LIVRO RIBEIRÃO PRETO - Entre livros e linhas

Durante a 8ª Feira do Livro de Ribeirão Preto / SP (14 de junho 2008) entre livros, a linha pede passagem e mãos ágeis começam tecer, agora não o texto, mas a peça que ornamentará o corpo.
Elza e Inajá sorriem para a câmera atenta que registra o momento.

(foto by Elvio Antunes de Arruda)

domingo, 25 de maio de 2008

FALANDO DE LÃ E LINHA

(Inajá Martins de Almeida)

Como é bom falar de lã,
Quanto mais,
Na linha,
Enco
ntrar a lã.
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A lã, que tece o agasalho;
A linha, que compõe o texto.
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O texto da lã, na linha!
O texto da linha, na lã!

A lã que passa p’ra linha;
A linha contida na lã.

Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

TEMPO DE LÃ E DE LINHA

(relógio do sol - Praça XV - Ribeirão Preto - foto Elvio A.Arruda junho 2008)


Enquanto teço com lãs,
Passeio nas linhas;
Nas linhas do tempo.

Percebo, então
Quantos sonhos,
Deixados nas lãs!

Quantos sonhos,
Encontrados nas linhas;
Nas linhas do tempo.
E, perdida em pensamento,
Ecoa o vento
O canto
Que fala das lãs,
Nas linhas do tempo.

E o vento,
Para longe leva a lã
E desenrola a linha;
Da linha do tempo.

Lã...
Linha...
Tempo...
Vento...

A lã do agasalho,
Que envelheceu
No tempo!

A linha da fantasia,
O tempo,
Levou o vento!

Deixando a saudade
Da lã,
Que a linha,
Em poesia transformou.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

LER ATRAVÉS DAS ENTRELINHAS

(Inajá Martins de Almeida)

Muitas vezes,
O que parece ser,
Na realidade,
Não é – está escondido
Por trás das linhas.

O texto,
Através das linhas,
Forma, então,
O contexto.
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Nesse momento,
O pensamento
Do filósofo divaga
Sobre o texto.

E o poeta afaga
A alma, no contexto

Para se ler
Nas entrelinhas do texto,
É preciso saber,
Que por trás das linhas
O contexto
Se esconde.

Somente leitor
Contumaz,
Audaz,
Perspicaz,
Que acostumado fora
Às linhas do texto
E às entrelinhas do contexto,
Poderá ler
E compreender,
As artimanhas
Que se escondem
Por trás das linhas,
Através das entrelinhas.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

ENTREPONTOS

(RENOIR - moça tecendo)

Uma interrogação (?)
Uma pergunta que fica no ar

Uma exclamação (!)
Um espanto, uma dúvida

Uma reticência (...)
Um pensamento que não se concluiu

Uma vírgula (,)
Uma pausa para continuidade de pensamento.

Um ponto e vírgula (;)
Uma explicação que se faz necessária

Dois pontos (: )
A explicação de um pensamento

Um ponto final (.)
A conclusão de um pensamento

E entre pontos
A interrogação questiona
A exclamação se espanta
A reticência não conclui
A vírgula descansa
O ponto e vírgula dá continuidade
Dois pontos explica
O ponto final conclui.

Eu contudo entre pontos me coloco;
Ora pontos nas linhas
Ora pontos nas lãs.

Vez ou outra os dois estão presentes
Uns nas linhas horizontais
Outros nas verticais

E eles dão sentido a minha vida
Uns me escrevem – as linhas
Outros me lêem – as lãs.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

VERSO E REVERSO

(Inajá Martins de Almeida)
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Uma palavra aqui – o verso.
Outra acolá – o reverso.

Uma tece linha,
Outra tece lã.

Enquanto uma fala de sonho,
A outra fala do amanhã.

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O sonho, a linha do verso.
O amanhã, o agasalho que aquece.

Se, sou linha,
Se, sou lã,

Mal pudera supor.
Quem sabe, eu seja o amor.

O amor, que está no verso.
O amor, que se faz no reverso.

O verso, da linha.
O reverso, da lã.
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Croche by Inajá - foto by Elvio A.Arruda (São Carlos 2009)

O PRAZER DA LÃ... O FASCÍNIO DA LINHA...

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(Inajá Martins de Almeida)

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O leitor irá me perguntar então:

- Por que poeta, tanta expressão
Através da lã e da linha?

Nada mais natural, esse questionamento,
E, logo, passo a elucidar, sobre
Meu gosto pela lã... meu prazer pela linha.

Uma – a lã
Desde cedo passava por minhas mãos,
Pequeninas de criança

A outra – a linha
Viria logo a seguir,
Através de meu pai, que a ela me conduzia.

Da mãe, adquiria intimidade com a lã.
Do pai, a habilidade com a linha.

A mãe, transmitia a arte da lã.
O pai, ensinava o prazer da linha.

Assim crescia,
Entre lã e linha.

Logo, a lã produzia – peças artesanais.
A linha, envolvia-me – na leitura e escrita.

A lã, parada mantinha-me,
Concentrada, com as mãos a trabalhar.

A linha, transportava-me,
À lugares distantes – inimagináveis.

Mas...
Enquanto as mãos teciam a lã,
A mente viajava na linha.

E com essa mescla de lã e de linha,
Pode nascer a escritora,
Que versa tanto com lã,
Quanto com linha.

Quem quiser então saber mais,
Sobre a magia da lã,
Sobre a poesia da linha,
Basta apenas começar.

Pegue uma meada de lã,
Passeie pela linha.

Em pouco tempo, então,
Terá confeccionado um retalho – com a lã

Com a linha,
Terá saído da ignorância verbal.

Logo, não saberá escolher,
Entre o prazer da lã,
ou o fascínio da linha.

Eu, contudo, se puder optar lhe digo:
Faça arte com a lã,
Alce vôo com a linha.

Aprenda com a linha,
Trabalhe com a lã.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

COLCHA DE RETALHOS


(Inajá Martins de Almeida)

Das lembranças da infância,
Pude retalhos recolher,
Ora, de panos de lã,
Ora, de contos de linha.

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As linhas, dos contos de fada,
Criavam retalhos de sonhos:
Pedaços coloridos de lã,
Que, aos poucos, a colcha formava.

Menina, então, crescia
Entre a fantasia da linha,
Entre a magia da lã.

Logo, a mulher desabrocharia,
A boneca de lã, num canto, deixaria,
A palavra, na linha, encontraria.

Os retalhos, amealhados, juntaria,
Retalhos coloridos:
Dos contos de fada, na linha;
Das tramas dos pontos, na lã,

Aos poucos,
A colcha de retalhos teceria,
Com pedacinhos de lã,
Com lembranças da linha,

E, enquanto,
Os retalhos de lã
um corpo frio aqueceria,
pedacinhos de linha
Alma contrita, acalentaria.
.
Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

FRAGMENTOS DE LÃ E DE LINHA


(Inajá Martins de Almeida)
..
Para mim, falar de lã não é segredo,
Tampouco, falar de linha.

Tenho familiaridade com a lã,
Da mesma forma com a linha.

Com uma, trabalho as mãos – a lã,
Com outra, trabalho a mente – a linha.

Com uma posso escrever – a linha,
A outra, entretanto me escreve – a lã.
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(foto Elvio A.Arruda - 11/02/2010 - tapete em croche por Inajá)
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Nasci no meio das duas:
Das lãs e das linhas.

Tradição de família
Presente estava a lã,
Assim como estava a linha.

Enquanto uma tecia – a lã,
A outra versava – a linha.

Portanto...
Para mim, não há confusão:

Não posso, sem a lã, viver
Não posso, sem a linha, expressar.

A lã, em arte transformo,
A arte da lã, inspira-me a linha.

Arte... lã... linha...
Uma a uma vai tecendo

Retalhos de lã
Fragmentos de linha.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

LINHA E LÃ NUM SÓ ESPAÇO

(Inajá Martins de Almeida)

A meditar estava um dia:

Qual a importância da lã,
Sobre meus trabalhos de artesã?

Qual o valor da linha,
Para minhas rimas de poeta?
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(tapete e cortina em croche por Inajá - foto Elvio A.Arruda / São Carlos dezembro 2009)

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Logo, o verbo se fez presente
E o verso, solto fluiu.

Por vezes diversas,
A lã se encontrou com a linha,
A linha invadiu a lã.

A lã produziu peça artesanal,
A linha escreveu o verso final.

Artesã, então, desde tenra idade,
Jamais pudera supor,
Que, no declínio da vida,
A poeta, na linha, viria se encontrar.

A lã com a linha se entendia.
De mãos dadas passeavam
Pelos trabalhos, que a lã produzia,
Pelos versos, que a linha escrevia.

A lã, mostrou o trabalho
Das mãos da artesã.
A linha, então descobriu
A alma da poeta.

Agora, as duas – lã e linha -
Num só espaço se encontram.

A lã da artesã,
Com a linha da poeta.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

PANOS DE LÃ ... RETALHOS DE LINHA


(Inajá Martins de Almeida)

Momentos houve
Em que, entre lãs e linhas vivia.

Observava as lãs, mas não tecia,
Lia nas linhas, mas não escrevia.

Porém...
Jamais, das lãs me distanciei,
Jamais, das linhas me apartei.
.

.
As lãs, nas mãos de minha mãe, corriam
Mas, não passavam pelas minhas.

As linhas, nos livros, lia
Mas, nas linhas não escrevia.

As linhas dos livros me absorviam
Contudo, me apartavam das lãs.

Hoje, entretanto, percebi,
Que posso tanto com lãs tecer,
Quanto nas linhas escrever.

Pensava, então, somente dominar a lã
Mas percebi que a linha, também, me domina.

E já não sei mais viver,
Sem o domínio da lã
Sem o fascínio da linha.

Assim, entre lãs e linhas, vou tecendo,
Panos de lã,
Retalhos de linhas.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida
Fotos ElvioA.Arruda - São Carlos dezembro 2009

O TECER DA LÃ... O DECLINAR DA LINHA

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Entre lãs e linhas nasci:
Minha mãe tecia com lãs.
Meu pai escrevia nas linhas

Acostumei-me às lãs,
Tanto quanto às linhas.

Numas tecia,
Noutras escrevia.

Enquanto nas lãs tecia,
E trabalhos produzia,

Nas linhas, lia
E aprendia.

Tornei-me, assim, tecelã
De lãs e de linhas.

Ora há, em que a lã
Direciona minhas mãos.

Outras, em que a linha,
Direciona meus pensamentos.

Jamais me canso das lãs,
Jamais me aparto das linhas.

Minha mãe já não tece as lãs,
Meu pai ainda escreve nas linhas.

Eu, contudo, continuo
Tecendo lãs e declinando linhas.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

PONTO A PONTO

Ponto a ponto vou tecendo:

Ora, ponto de lã,
Ora, ponto de linha.

E eles se misturam,
Se intercalam.

Tecem lãs,
Tecem linhas.


Das lãs.
Teço agasalhos.

Das linhas,
Teço palavras.

As mãos tecem a lã.
Os pensamentos, a linha.

Os dois trabalham juntos:

Enquanto a mão, tece o ponto,
O pensamento, a palavra.

Com o ponto,
Agasalho o corpo.

Com a palavra,
Acalento a alma.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida
Foto by Elvio Antunes de Arruda

ARTESÃ POETA ... POETA ARTESÃ


(Inajá Martins de Almeida)
.
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Vejo a poesia na lã,
Na linha, percebo o verso .

Confecciono poesia, com a lã,
Na linha escrevo, verso.

O fio da lã, tece o ponto,
O verbo, declina a rima, na linha.

E, entre a rima da lã,
E a poesia da linha,

Já não sei mais separar
A lã, da linha.

Rimo, então, lã com poesia,
Ponto, rimo com linha.

A lã me inspira a rima,
A linha, escreve-me o verso.

Não sei se sou
Artesã ou poeta.

Ou, quem sabe,
Artesã-poeta.

Ou, mesmo,
Poeta-artesã.

Não sei mais separar,
A lã da linha,

A rima, do verso,
A poesia da lã e da linha.
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(em casa, Elvio aproveita para fotografar Inajá, na sala transformada em atelier, onde telas se mesclam as plantas e aos trabalhos em croche. - quinta-feira 11 de fevereiro 2010 - São Carlos; a imagem dá um colorido ao poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida)

SER OU ESTAR... EIS A QUESTÃO


(Inajá Martins de Almeida)
.
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Gosto de ser,
Gosto de estar.

Gosto de ser – da lã – artesã,
Tanto quanto estar – com a lã – artesã.

Há momentos, em que apenas estou,
Outros, em que sou.

Estou, quando não me comprometo;
Sou, quando me entrego, produzo, realizo.

Gosto de ser – com a linha – escritora,
Gosto de estar – com a linha – escritora.

A lã me levou à linha,
A linha me aperfeiçoou na lã.

Sou com a lã,
Como sou com a linha.

Estou para a lã,
Como estou para a linha.

Se não estou com uma,
Tampouco, com outra.

Se sou com uma,
Logo, a outra pede passagem.

E as duas se entregam,
Se mesclam, se intercalam;
Produzem e se realizam.

Eis a questão:
Artesã escritora?
Ou, escritora artesã?

Não há como separar:
As duas conquistaram espaço
E se realizaram,
Tanto com lãs,
Quanto com linhas.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

ARTESÃ DO PONTO E DA PALAVRA


(Inajá Martins de Almeida)
.
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Não me distancio do ponto,
Tampouco da palavra.

O ponto me tece,
Enquanto a palavra me escreve.

Valho-me do ponto,
Quando as mãos pedem o movimento.

Valho-me da palavra,
Quando o verbo flui dentro de mim.

As mãos produzem o ponto,
O pensamento, a palavra.

Artesã do ponto,
Artesã da palavra.

O ponto descansa minh’ alma,
A palavra, alenta-me o espírito.
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Ribeirão Preto junho 2008 - Elvio fotografa Inajá no momento em que as linhas pedem passagem. As lembranças jamais devem ser apagadas; quando são registradas ficam melhores ainda!
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

ARTESÃ DA LÃ E DA LINHA


(Inajá Martins de Almeida)


Não há como negar:
Artesã sou...
Jamais deixarei de ser.

Com as mãos trabalho,
Tecendo, ponto a ponto,
Agasalhos coloridos.

Desde pequenina
Acostumada fôra
A estar no meio deles.

Da leitura, também,
Artesã sou:

Jamais esse prazer, abandonarei.
Mais não fôra artesã
Da palavra, no papel
Transformo linha em texto.

Entre linhas de lã,
Ponto e ponto mesclo.

Entre linhas de papel,
Canto e conto declino.

Já não sei mais
Se sou artesã de lã,
Ou artesã de linha

Pois, se
com a lã aqueço um corpo frio,
com a linha alimento uma alma contrita.

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Inajá, a mãe e o irmão em São Paulo 1956 - cena registrada pela câmera do pai - já demonstra o prazer das linhas, quando volta da escola, numa manhã fria e cinzenta da cidade da garoa.
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Os anos céleres passarão, agora em setembro de 2009, Elvio registra o momento em que, na cidade de São Carlos, o frio intenso, Inajá tece a lã e registra na linha, mensagens que o tempo não irá apagar. Belas lembranças!
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

DAS LÃS ÀS LINHAS

(Inajá Martins de Almeida)

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Dê-me uma meada de lã,
E eu teço um agasalho.

Dê-me uma palavra,
E eu formulo uma frase.

Dê-me uma frase,
E eu escrevo um texto.

Dê-me um texto,
E eu componho um livro.

Pois...
Se o agasalho pode abrigar,
Do frio, o corpo sofrido,

As palavras, podem tirar
Da ignorância, o aprisionado,

A frase pode marcar
O coração desalentado,

Um texto pode elucidar
O homem desavisado,

Um livro pode resgatar
Um sonho adormecido.

Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

O FIO DA MEADA


(Inajá Martins de Almeida)
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O fio da meada de lã peguei,
E a tecer comecei.

O tempo solto corria,
Nas mãos o trabalho crescia;
Parar, já não podia.

As mãos trabalhavam;
Célere, o pensamento corria;
ultrapassava fronteiras.

Enquanto a lã, as mãos teciam,
A linha, os pensamentos envolviam.

Eis que, tomadas de sobressalto,
Pararam as mãos de tecer
Com lã, e as palavras, na linha,
Começaram a nascer.

Mesclando imagem da lã,
A linha logo se enchia.

Aí artesã poeta virou,
A meada de lã largou,
A palavra na linha garrou.

Contudo, da lã, o verbo não distanciou
E o fio da meada, agora, está na linha.
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Manhã fria de setembro 2009, enquanto Inajá tece a toalha que irá ornamentar a mesinha da sala de estar de sua nora, Lilica pede carinho, sem se dar conta de que o olhar atento do fotógrafo Elvio A.Arruda, registra a cena. É o momento em que a artesã larga a lã e na linha coloca sua impressão que ficará registrada no tempo.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

sábado, 24 de maio de 2008

O LOUVOR DA MULHER VIRTUOSA


Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor excede o de finas jóias.

Busca lã e linho e, de bom grado, trabalha com as mãos.

Estende as mãos ao fuso, mãos que pegam na roca.

Não teme a neve, pois todos andam vestidos de lã escarlate.

Faz para si cobertas, veste-se de linho puro e de púrpura.

Faz roupas de linho fino, e vende-as.

Dai-lhe do fruto das suas mãos, e de público a louvarão as suas obras.
(Provérbios 31: 10/31)


Enquanto em seu violão Inajá executa uma peça musical, o olhar do fotógrafo, seu pai, aproveita o momento para registrar a cena. Os detalhes fazem a diferença. Um vestido verde em croche confeccionado por ela, uma colcha na cama, tecida em lã colorida em que mãos habilidosas da mãe se vêem presente. Na cômoda a toalhinha de croche ornamenta o móvel. Enfim, tudo expira e inspira a linha, desta que conta.
Esta era o ano de 1974 na cidade de São Paulo.
11º andar prédio de esquina da praça Vicente Celestino. 
Hoje no local encontra-se o majestoso prédio do Museu da América Latina, obra do arquiteto Oscar Nyemaier.
Lembranças que o tempo não apaga.


Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

sexta-feira, 16 de maio de 2008

ENTRE TECLAS E LÃS

David aos oito meses, em São Paulo. Seus dedinhos já alcançam as teclas do piano, emitindo sons melodiosos, enquanto seu corpo é aquecido por blusa de lã listrada azul e branca, confeccionada pela zelosa mamãe Inajá, que registra o momento através da foto.
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"A música instrumental tem o dom
de fazer as pessoas voarem pelo infinito.
Já a letrada é um universo
preso em si mesmo"
(David Martins de Almeida Maldonado)
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"Até a criança se dará a conhecer pelas suas ações,
se a sua obra for pura e reta".
(Provérbio 20:11)

PUREZA

Na pureza da criança,
o detalhe está no vestido em tricô.
Minha mãe em sua primeira comunhão, na década de 30.
Vestido em tricô confeccionado por sua mãe (vovó Ana)

CROCHE ORNAMENTA A MESA

David - Aniversário 2 anos
(detalhe: toalha em crochê confeccionada pela bisavó Ana)

terça-feira, 6 de maio de 2008

LEMBRANÇAS DAS LÃS E LINHAS

Entre lãs e linhas nasci:

Enquanto minha avó Ana
a lã desenrolava
minha tia Olga,
trabalhava a lã -
E que belo trabalho
Confeccionava!
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Assim...
Acostumei-me
Tanto às lãs
Quanto as linhas.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida


Na foto, uma raridade, Ana Salviato (minha avó) e Olga (minha tia) aparecem tecendo linhas (meados da década de 40)